TEMA DO PROJETO: As relações de poder entre os saberes no cuidado psicopatológico
EQUIPE: André Mattos, Felipe Lobo, Victor Martins
ARTIGO:
Martins, André. Filosofia e saúde: métodos genealógico e filosófico-conceitual. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):950-958, 2004.
O artigo propõe duas metodologias filosóficas a serem utilizadas no campo da saúde coletiva – a genealogia e o método filosófico-conceitual –, que inserem a filosofia no campo em seu papel questionador de conceitos e práticas. O autor introduz o artigo falando sobre como a filosofia teve um papel fundante na área da saúde coletiva no Brasil, quanto às suas teorias, que constituíram doutrinas e métodos, caracterizando-se, entretanto, como ideologias, limitando seu campo e prática, e esquecendo a filosofia propriamente, em seu papel crítico questionador.
As filosofias de Espinosa e Nietzsche tomam destaque aqui, por não dissociarem o corpo da alma e enfatizarem a concepção da filosofia como ‘medicina da alma’, traçando na área da saúde a implicação entre ambiente, afetos e pensamento. O pensamento de Espinosa influencia Nietzsche na constituição da genealogia, um dos métodos que aqui nos interessa, que implica numa investigação de causas, de modo que não se considera que estar-se-á conhecendo essas causas, num sentido cartesiano, mas encontrando explicações por questões afetivas.
A genealogia constituída por Nietzsche é um método de desconstrução de valores e verdades, os quais se mostram como ficções que escondem suas intenções reais, se colocam como transcendentes, superiores a este mundo, enquanto escondem suas razões afetivas, políticas etc. Ligada a uma ‘medicina da alma’, a genealogia vem diagnosticar sintomas de negação da vida, que muitas vezes se escondem sob uma vontade de verdade, enquanto, para Nietzsche, ‘o único valor real é a potência de vida, a aprovação da vida e sua transformação para potencializá-la’. A desconstrução genealógica, ao denunciar os afetos implicados nas origens onde antes se buscavam essências, ou algo intocável, abre espaço para a criação de novos conceitos, ou atualização dos conceitos como instrumentos filosófico-conceituais para se pensar os problemas contemporâneos.
A metodologia da criação filosófico-conceitual, portanto, deve ser utilizada para pensar os problemas da área da saúde coletiva, por exemplo, de modo a atualizar os conceitos, que foram criados diante de problemas diferentes. A renovação dos conceitos, portanto, nos permite abordar os atuais problemas teóricos e práticos da área da saúde mental por diferentes modos de ver o mundo, uma vez que a genealogia tenha denunciado que a cristalização dos antigos conceitos é injustificada, assim como certas práticas que neles se fundamentam.
O autor então delega à filosofia, no âmbito da saúde, três funções: (i) um trabalho genealógico de “perceber e analisar ‘condições de possibilidade’ paradigmáticas e epistêmicas” das concepções e práticas de saúde no decorrer do tempo; (ii) um trabalho genealógico, semelhante ao anterior, porém voltado para as concepções e práticas individuais, em relação a estas no âmbito mais geral da cultura; e (iii) a elaboração de novos conceitos, visto que os antigos não são absolutos, mas fundados em valores que devem ser renovados, como os interesses de mercado que se superpõem à saúde enquanto ‘capacidade ou potência de agir e de pensar’.
O autor apresenta alguns trabalhos realizados neste sentido. Destacam-se os estudos genealógicos de Foucault sobre a clínica médica, a medicina social, o hospital, a psiquiatria e a doença mental, entre outros; inspirados nestes, Machado e Portocarrero realizaram estudos na área da psiquiatria no Brasil, havendo, também no âmbito nacional, estudos realizados por Martins e Carvalho. Winnicot e Armony também deram passos importantes no caminho da renovação conceitual, mas Canguilhem se destaca com sua crítica à normalidade e à patologia e proposição de um novo conceito de saúde.
EQUIPE: André Mattos, Felipe Lobo, Victor Martins
ARTIGO:
Martins, André. Filosofia e saúde: métodos genealógico e filosófico-conceitual. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):950-958, 2004.
O artigo propõe duas metodologias filosóficas a serem utilizadas no campo da saúde coletiva – a genealogia e o método filosófico-conceitual –, que inserem a filosofia no campo em seu papel questionador de conceitos e práticas. O autor introduz o artigo falando sobre como a filosofia teve um papel fundante na área da saúde coletiva no Brasil, quanto às suas teorias, que constituíram doutrinas e métodos, caracterizando-se, entretanto, como ideologias, limitando seu campo e prática, e esquecendo a filosofia propriamente, em seu papel crítico questionador.
As filosofias de Espinosa e Nietzsche tomam destaque aqui, por não dissociarem o corpo da alma e enfatizarem a concepção da filosofia como ‘medicina da alma’, traçando na área da saúde a implicação entre ambiente, afetos e pensamento. O pensamento de Espinosa influencia Nietzsche na constituição da genealogia, um dos métodos que aqui nos interessa, que implica numa investigação de causas, de modo que não se considera que estar-se-á conhecendo essas causas, num sentido cartesiano, mas encontrando explicações por questões afetivas.
A genealogia constituída por Nietzsche é um método de desconstrução de valores e verdades, os quais se mostram como ficções que escondem suas intenções reais, se colocam como transcendentes, superiores a este mundo, enquanto escondem suas razões afetivas, políticas etc. Ligada a uma ‘medicina da alma’, a genealogia vem diagnosticar sintomas de negação da vida, que muitas vezes se escondem sob uma vontade de verdade, enquanto, para Nietzsche, ‘o único valor real é a potência de vida, a aprovação da vida e sua transformação para potencializá-la’. A desconstrução genealógica, ao denunciar os afetos implicados nas origens onde antes se buscavam essências, ou algo intocável, abre espaço para a criação de novos conceitos, ou atualização dos conceitos como instrumentos filosófico-conceituais para se pensar os problemas contemporâneos.
A metodologia da criação filosófico-conceitual, portanto, deve ser utilizada para pensar os problemas da área da saúde coletiva, por exemplo, de modo a atualizar os conceitos, que foram criados diante de problemas diferentes. A renovação dos conceitos, portanto, nos permite abordar os atuais problemas teóricos e práticos da área da saúde mental por diferentes modos de ver o mundo, uma vez que a genealogia tenha denunciado que a cristalização dos antigos conceitos é injustificada, assim como certas práticas que neles se fundamentam.
O autor então delega à filosofia, no âmbito da saúde, três funções: (i) um trabalho genealógico de “perceber e analisar ‘condições de possibilidade’ paradigmáticas e epistêmicas” das concepções e práticas de saúde no decorrer do tempo; (ii) um trabalho genealógico, semelhante ao anterior, porém voltado para as concepções e práticas individuais, em relação a estas no âmbito mais geral da cultura; e (iii) a elaboração de novos conceitos, visto que os antigos não são absolutos, mas fundados em valores que devem ser renovados, como os interesses de mercado que se superpõem à saúde enquanto ‘capacidade ou potência de agir e de pensar’.
O autor apresenta alguns trabalhos realizados neste sentido. Destacam-se os estudos genealógicos de Foucault sobre a clínica médica, a medicina social, o hospital, a psiquiatria e a doença mental, entre outros; inspirados nestes, Machado e Portocarrero realizaram estudos na área da psiquiatria no Brasil, havendo, também no âmbito nacional, estudos realizados por Martins e Carvalho. Winnicot e Armony também deram passos importantes no caminho da renovação conceitual, mas Canguilhem se destaca com sua crítica à normalidade e à patologia e proposição de um novo conceito de saúde.
2 comentários:
Acho o texto escolhido interessante no que diz respeito à questão que aborda a necessidade de formular novos conceitos (construídos de acordo com a especifidade do fenômeno abordado etc..), aplicando essa colocação à saúde mental. Mas acho que talvez seja bom vocês procurarem também algum artigo mais específico.
Boa sorte!
Gostei bastante do resumo, principalmente pelo fato de abranger Nietzsche e Foucault, com seus conceitos considerados antigos demais por alguns indivíduos no campo da Psicopatologia.
Postar um comentário