segunda-feira, 26 de maio de 2008

Resumo: Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde.

TEMA DO PROJETO: Mecanismos utilizados pelos profissionais na condução da assistência sexual da mulher em postos de saúde de Salvador e a apreensão das usuárias acerca deste serviço

ARTIGO: Pereira, Queli Lisiane Castro et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto contexto -enferm., Jun 2007, vol.16, no.2, p.320-325.

GRUPO DE PESQUISA: Ana Paula Plantier, Daniela Miranda, Karina Neville, Roberta Reis e Uila Neri.


O objetivo do estudo foi o de relatar a experiência referente ao processo de (re) construção de um grupo de planejamento familiar numa Unidade Básica de Saúde (UBS) num bairro do Rio Grande – RS, localizado na periferia do município, a partir de conceitos concernentes a educação popular em saúde com uma especial atenção aos ensinamentos de Paulo Freire no que tange a esta temática.
A população do estudo foi constituída por 46 mulheres cadastradas na Unidade Básica de Saúde. No tocante à composição desse grupo uma pontuação é pertinente. A captura dessas mulheres foi possibilitada pela retomada do cadastro das antigas usuárias, as quais abandonaram o serviço que naquele momento tinha o seu funcionamento caracterizado por palestras seguidas de distribuição de anticoncepcionais orais às usuárias. Este modelo de trabalho revelou-se ineficaz, ao ancorar-se em uma educação em saúde desconectada da preocupação com a cidadania e autonomia dos sujeitos, representando uma educação bancária – conceito de Freire. As Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) foram pessoalmente apresentar a cada antiga usuária a nova proposta metodológica de trabalho do grupo de planejamento familiar entendida como mais dinâmica e participativa. Concomitantemente, foi realizada a procura por outras mulheres, as quais não participavam do antigo grupo que se desintegrou em 2002, mas que demonstraram interesse em aderir a uma proposta de educação popular em saúde com caráter operativo e participativo no qual todos buscam um objetivo comum – planejar suas famílias consonante com uma visão crítica do mundo, sem desconsiderar o seu contexto sóciopolítico e cultural. A equipe de saúde é constituída por uma psicóloga, uma enfermeira, três agentes comunitários de saúde e, além disso, o grupo contava coma assistência de um médico para atendimento ginecológico.
O trabalho na UBS era realizado em duas modalidades de atendimento: grupal e individual. Esta estratégia – ofertar a cada usuária um espaço para um momento individual – possibilitou uma abordagem coletiva do ser sem, contudo, desvalorizar a individualidade.
Das discussões geradas no/pelo grupo no decurso dos encontros algumas constatações foram possibilitadas. Foram encontrados alguns indicadores de que a maior parte das usuárias atribuíam ao planejamento familiar a função de dar pílulas e persuadi-las a fazer laqueadura. Nesse sentido, percebemos uma preocupação por parte da equipe em desmistificar esta crença e fomentar um espaço dialógico, para troca de experiências familiares e das variáveis que influem na decisão de planejar a família. Um resultado significativo dessa pesquisa diz respeito à verificação da transformação do grupo em um local de expressão coletiva no qual cada usuária tem o direito a sua voz assegurada. O que sugere uma mudança na relação com a equipe de saúde a qual tornou-se mais aberta horizontal. Ademais, com a nova abordagem de grupo, observou-se um acréscimo na procura das mulheres pelos serviços educativo-preventivos oferecidos pela UBS, maior engajamento dos parceiros das usuárias no processo de planejamento familiar, através do resgate encetado pelas mesmas, do papel do pai em relação aos filhos e do cônjuge em relação ao casal.
Finalmente, o resultado mais significativo para o nosso projeto refere-se a uma estratégia otimizadora do serviço adotada pela UBS, a saber, visando uma maior resolutividade na extensão do seu programa de planejamento familiar a equipe de saúde buscou estabelecer um convênio com o hospital universitário. Esta parceria, a qual alcançou resultados favoráveis sensíveis no funcionamento do serviço, nos faz pensar que as mudanças e o aperfeiçoamento no modelo de promoção da saúde estão atrelados à maneira como a equipe de saúde por meio de suas práticas elabora e desenvolve o saber.
A experiência de educação popular em saúde descrita expõe resultados importantes para a construção de uma nova forma de conceber a saúde, sobretudo no sentido da consolidação de um trabalho efetivamente capaz de inserir comunidades e usuários no processo de cuidar e promover a saúde. Quando nos referimos a nossa realidade observamos que a equipe de saúde tem como uma estratégia provável o direcionamento de suas ações, embasada nas políticas públicas, para o mais íntimo possível da família e da comunidade, tendo como balizador e objetivo o atendimento integral. Nesse sentido, as ACS tornam-se absolutamente necessárias à equipe, pois pertencendo a comunidade estão inseridas num mesmo contexto e são conhecedoras dos anseios e necessidades das usuárias.

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