domingo, 25 de maio de 2008

Tema: A busca da rede de apoio como estratégia de enfrentamento para os pais de crianças portadoras de autismo

Artigo: FONTES, Breno Augusto Souto Maior. Redes sociais e saúde: sobre a formação de redes de apoio social no cotidiano de portadores de transtorno mental. Revista de Ciências Sociais, n.26, p.87-104, abril/2007.

O presente artigo é descritivo e comenta principalmente sobre a reforma psiquiátrica e suas conseqüências: ganhos positivos para os portadores de doença mental, calcados no apoio social e modificações – nem sempre positivas – na dinâmica governamental e social.

O autor inicia o artigo falando que as reformas psiquiátricas estão começando a ganhar espaço de discussão, o que faz com que os métodos de tratamento sejam revistos e modificados, ainda que timidamente. Ou seja, a visão que se tinha do doente mental e da forma que ele deveria ser tratado passa de uma abordagem de exclusão social e condenação moral para uma abordagem humanística e integradora. Assim, a reintegração do indivíduo na sociedade se faz muito importante, porque visa uma melhoria na qualidade de vida e de tratamento do paciente. O autor coloca que o campo dos cuidados da saúde vai além dos profissionais da área médica e inclui também associações voluntárias, ONGs, família, vizinhos, amigos, etc. Estes meios de cuidados constituem o apoio social, o qual é indiscutivelmente relevante para as pessoas. O conceito de apoio social é mais complexo do que se imagina e está relacionado ao de solidariedade. Ele ressalta que a solidariedade tem uma lógica bem diferente da lógica mercantil e estatal, as quais são calcadas na racionalidade instrumental: dinheiro e poder. Portanto, a troca material, elemento chave nas relações contemporâneas, não pode ser vista da mesma forma na soliedariedade, pois a troca que ocorre neste caso é mais complexa e inclui elementos como interdependência mútua, reciprocidade e vínculo social. Os elementos da solidariedade estão presentes nas pessoas que movem o mercado e o Estado, mas o apoio social (que gera cuidado a doentes ou pessoas com necessidades, apoio emocional, atenção e conforto psicológicos resultantes das interações etc.) tem efeitos muito positivos em relação à saúde das pessoas e não pode ser substituído pela atenção dada pelo Estado. No entanto, a partir destas concepções e com a diminuição dos leitos dos hospitais psiquiátricos (devido à instalação dos CAPs), o que está acontecendo também é um desengajamento do Estado neste processo, pois o governo se exime da responsabilidade e deixa todos os cuidados a cargo das entidades municipais e civis, das famílias e outras instituições. Além disso, freqüentemente a perpetuação de velhas mentalidades não colabora com o caminhar de uma mudança positiva. Muitas vezes as famílias não encontram apoio prático para a discriminação e a solução mais fácil é isolar o doente mental em casa, com pouco ou nenhum convívio social. Também os profissionais ainda dão relevância maior ao tratamento medicamentoso do que outro que se apresente como alternativo.

Este artigo deixa a reflexão que as – lentas – mudanças de concepção de tratamentos ao doente mental, baseadas principalmente na inclusão social, já são um salto qualitativo relevante; porém nenhuma mudança é fácil e demanda muita atenção em vários setores da vida cotidiana para que possa acontecer efetivamente.

Um comentário:

Ana Paula disse...

Achei o resumo bem estruturado. E achei o artigo importante, pois define o que é Apoio social, conceito mais abrangente do que imaginava; O qual envolve uma abrangência nos cuidados relativos à saúde.
Com certeza qualquer mudança nas políticas públicas - e mais especificamente no tratamento aos doentes mentais - em nosso país demandam um tempo maior, na medida em que envolve sucessivas reformulações (conceituais, práticas, etc.) por parte de diversas camadas da população. Porém, acredito que o próprio ato de propor temas de pesquisa como esse já representa um passo (pequeno, mas significativo) para estimular discussões e reflexões dentro do âmbito acadêmico, e assim, na formação de futuros profissionais de saúde.