sábado, 31 de maio de 2008

Resumo: Filosofia e saúde

TEMA DO PROJETO: As relações de poder entre os saberes no cuidado psicopatológico

EQUIPE: André Mattos, Felipe Lobo, Victor Martins

ARTIGO:

Martins, André. Filosofia e saúde: métodos genealógico e filosófico-conceitual. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):950-958, 2004.

O artigo propõe duas metodologias filosóficas a serem utilizadas no campo da saúde coletiva – a genealogia e o método filosófico-conceitual –, que inserem a filosofia no campo em seu papel questionador de conceitos e práticas. O autor introduz o artigo falando sobre como a filosofia teve um papel fundante na área da saúde coletiva no Brasil, quanto às suas teorias, que constituíram doutrinas e métodos, caracterizando-se, entretanto, como ideologias, limitando seu campo e prática, e esquecendo a filosofia propriamente, em seu papel crítico questionador.
As filosofias de Espinosa e Nietzsche tomam destaque aqui, por não dissociarem o corpo da alma e enfatizarem a concepção da filosofia como ‘medicina da alma’, traçando na área da saúde a implicação entre ambiente, afetos e pensamento. O pensamento de Espinosa influencia Nietzsche na constituição da genealogia, um dos métodos que aqui nos interessa, que implica numa investigação de causas, de modo que não se considera que estar-se-á conhecendo essas causas, num sentido cartesiano, mas encontrando explicações por questões afetivas.
A genealogia constituída por Nietzsche é um método de desconstrução de valores e verdades, os quais se mostram como ficções que escondem suas intenções reais, se colocam como transcendentes, superiores a este mundo, enquanto escondem suas razões afetivas, políticas etc. Ligada a uma ‘medicina da alma’, a genealogia vem diagnosticar sintomas de negação da vida, que muitas vezes se escondem sob uma vontade de verdade, enquanto, para Nietzsche, ‘o único valor real é a potência de vida, a aprovação da vida e sua transformação para potencializá-la’. A desconstrução genealógica, ao denunciar os afetos implicados nas origens onde antes se buscavam essências, ou algo intocável, abre espaço para a criação de novos conceitos, ou atualização dos conceitos como instrumentos filosófico-conceituais para se pensar os problemas contemporâneos.
A metodologia da criação filosófico-conceitual, portanto, deve ser utilizada para pensar os problemas da área da saúde coletiva, por exemplo, de modo a atualizar os conceitos, que foram criados diante de problemas diferentes. A renovação dos conceitos, portanto, nos permite abordar os atuais problemas teóricos e práticos da área da saúde mental por diferentes modos de ver o mundo, uma vez que a genealogia tenha denunciado que a cristalização dos antigos conceitos é injustificada, assim como certas práticas que neles se fundamentam.
O autor então delega à filosofia, no âmbito da saúde, três funções: (i) um trabalho genealógico de “perceber e analisar ‘condições de possibilidade’ paradigmáticas e epistêmicas” das concepções e práticas de saúde no decorrer do tempo; (ii) um trabalho genealógico, semelhante ao anterior, porém voltado para as concepções e práticas individuais, em relação a estas no âmbito mais geral da cultura; e (iii) a elaboração de novos conceitos, visto que os antigos não são absolutos, mas fundados em valores que devem ser renovados, como os interesses de mercado que se superpõem à saúde enquanto ‘capacidade ou potência de agir e de pensar’.
O autor apresenta alguns trabalhos realizados neste sentido. Destacam-se os estudos genealógicos de Foucault sobre a clínica médica, a medicina social, o hospital, a psiquiatria e a doença mental, entre outros; inspirados nestes, Machado e Portocarrero realizaram estudos na área da psiquiatria no Brasil, havendo, também no âmbito nacional, estudos realizados por Martins e Carvalho. Winnicot e Armony também deram passos importantes no caminho da renovação conceitual, mas Canguilhem se destaca com sua crítica à normalidade e à patologia e proposição de um novo conceito de saúde.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Resumo: Qualidade de vida de mulheres com câncer de mama

TEMA DE PESQUISA: Ganhos significativos proporcionados pelas terapias alternativas em pacientes oncológicos.

ARTIGO:
QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA

Délio Marques Conde
Aarão Mendes Pinto-Neto
Ruffo de Freitas Júnior
José Mendes Aldrighi
Rev. Bras. Ginecol. e Obstet. , v.28, n.3, Rio de Janeiro, mar. 2006

Os autores iniciam o artigo informando sobre a grande incidência do câncer de mama no Brasil, tida como a segunda neoplasia maligna que mais atinge as mulheres. Relatam também como a revelação do diagnóstico e seu tratamento podem desestruturar a vida de uma mulher com câncer de mama, determinando repercussões sociais, físicas, emocionais, psicológicas e sexuais. E como esse quadro pode contribuir para uma percepção negativa da qualidade de vida.

O objetivo do artigo foi fazer uma revisão de literatura para verificar os diversos fatores que influenciam na qualidade de vida (QV) de mulheres com câncer de mama, apresentando o estado atual de conhecimento sobre esse tema e discutindo os estudos, tanto nacionais como internacionais, existentes nesse campo. Os autores relatam que é recente a inclusão da QV como parâmetro utilizado na avaliação dos resultados dos tratamentos oncológicos. Durante muito tempo, os principais parâmetros considerados eram a sobrevida livre de doença e a sobrevida global.

Os autores verificaram que na literatura não existe um consenso quanto à definição da QV, por se tratar de um conceito multidimensional e subjetivo. Mas, foram abordadas duas definições: da OMS, que define a QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”; e a utilizada por diversos autores, que entendem a QV como “satisfação geral do indivíduo com a vida e sua percepção pessoal de bem-estar.”

O artigo foi divido em tópicos, analisando separadamente cada fator que exerce influência na QV, sendo eles: a idade do diagnóstico, uso de quimioterapia, tipo de cirurgia, sintomas climatéricos, relacionamento conjugal e sexualidade.

Quanto à idade ao diagnóstico, estudos já existentes demonstraram diferenças no impacto do câncer de mama segundo a faixa etária avaliada. Foi encontrado entre diversos pesquisadores, que mulheres jovens apresentam mais estresse emocional, mais dificuldade de adotar uma atitude positiva em face ao diagnóstico e menor habilidade em conviver com os efeitos adversos do tratamento. Foi relatada a importância do trabalho como um fator que contribui para uma melhora na QV dessas jovens.

Em relação à quimioterapia, os resultados encontrados foram controversos. Em estudo realizado nos Estados Unidos, a QV de mulheres com câncer de mama e com antecedente de quimioterapia foi comparada com a de mulheres sem essa neoplasia. Foi observado que mulheres com câncer de mama obtiveram piores escores de QV. Já nos estudos feitos na França e no Brasil, os resultados foram contraditórios. Na França, não foram encontradas diferenças significativas na QV, enquanto no Brasil, o uso de quimioterapia não foi associado a uma pior QV. Tal divergência pode ser explicada devido às diferenças metodológicas, quanto à amostra, delineamento, instrumentos e grupos de comparação. Um ponto importante, encontrado na literatura, é que o impacto da quimioterapia na QV tende a diminuir ao longo dos anos, o que também explicaria essas diferenças.

Nos tipos de cirurgia, os autores compararam as cirurgias conservadoras com as mutiladoras. Nas conservadoras, verifica-se uma melhor auto-imagem, e uma relação negativa aos aspectos físicos da QV, devido às dores sentidas pelas pacientes submetidas a esse tipo de cirurgia. Porém não foi encontrado impacto negativo na saúde mental. Já nas cirurgias mutiladoras, as mulheres demonstraram uma melhor adaptação psicológica, mas relataram uma maior insatisfação com a auto-imagem e maior estresse emocional. Entretanto, os resultados obtidos nos diversos estudos foram conflitantes, sendo relatados, em algumas pesquisas, que as diferenças entre esses dois tipos de cirurgia não são significativas. A comparação entre esses resultados torna-se difícil devido a utilização de diferentes questionários, e as limitações encontradas nestes, que não contemplam todos os aspectos da QV.

Os sintomas climatéricos, como ondas de calor, sudorese, alterações de humor, secura vaginal, insônia e incontinência urinária, podem comprometer a QV. Entretanto, já existem diversas terapias que amenizam o impacto desses sintomas. Mas a relação dessas terapias com a QV ainda é bastante controversa.

No que diz respeito à sexualidade, foi encontrada na literatura que 20 a 30% das mulheres com câncer de mama desenvolvem disfunções sexuais, tais como: diminuição do desejo sexual, dispareunia, dificuldade ou incapacidade de excitação e de orgasmo. A etiologia dessas disfunções ainda é pouco compreendida, mas há evidências de que são as reações psicológicas ao câncer de mama que servem de base para essas disfunções. Outras variáveis, que também são correlacionadas, são: o antecedente de quimioterapia, secura vaginal, idade e estado menopausal.

Como último fator analisado, o relacionamento conjugal é de fundamental importância na QV das mulheres com câncer de mama. O cônjuge funciona como suporte emocional que a mulher precisa para estar adotando uma atitude positiva e ativa em face ao diagnóstico e tratamento. Verifica-se que mulheres que estão satisfeitas com seus parceiros referem estar bem psicologicamente, ao passo que um relacionamento que esteja associado ao estresse emocional interfere e compromete a QV da mulher com câncer de mama.

Os autores concluem o artigo esclarecendo que, embora os fatores tenham sido abordados separadamente, eles estão constantemente interagindo e contribuindo, em maior ou menor intensidade, para a autopercepção da QV. Sendo que a influência desses fatores na QV é maior nos primeiros anos que se seguem ao diagnóstico e tratamento, período em que é muito importante um maior suporte emocional. Outro aspecto levantado na conclusão do artigo foi a importância de se ter uma maior experiência e familiaridade com terapias alternativas para chegarmos a um conceito de assistência integral à saúde da mulher com câncer, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida dessas mulheres.

A leitura desse artigo foi importante para compreendermos melhor o conceito de qualidade de vida, e saber quais os fatores que estão relacionados mais diretamente com a QV das mulheres com câncer de mama. Já que um dos objetivos do nosso trabalho é identificar a melhora na qualidade de vida das pacientes submetidas a terapias alternativas.


Grupo: Bruna Improta, Elizabeth, Márcia Lisboa e Maria Luiza.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO: DA DOMINAÇÃO À

Tema do Projeto: Como é percebida a apropriação privada de ruas públicas de Salvador pelos seus próprios moradores.

Equipe: Amanda Almeida, Valcleiton e Vítor Vattimo.

Resumo:

Sobarzo, Oscar. A produção do espaço publico: da dominação à apropriação. GEOUSP - Espaço e Tempo, Nº 19, pp. 93 - 111. São Paulo, 2006.

O autor começa o artigo se mostrando contraria à suposta morte do espaço publico, por considerar esse posicionamento simplista demais. Ele acredita que os espaços urbanos permitem a possibilidade de compartilhar os mesmos territórios com outras pessoas sem idealizar o convívio entre a diversidade como se fosse uma relação próxima e profunda entre as pessoas. Os espaços públicos sofrem na atualidade, um momento de transformação decorrente do processo da modernidade, que nega o ideal moderno de vida publica urbana (ruas abertas, circulação livre, encontros impessoais e anônimos, presença dos diferentes grupos sociais consumindo, observando-se, participando da política, divertindo-se etc.), assumindo a desigualdade e a separação como valores estruturantes. Nesse contexto, é citado Henri Lefebvre que considera o espaço publico como um produto que está essencialmente vinculado com a reprodução das relações sociais de produção, sendo este, portanto, produto e possibilitador das relações sociais. Outra teórica citada pelo autor é Ana Fani Alessandri que propõe três níveis de análise para a produção do espaço, dominação política, acumulação do capital e realização da vida humana. A dominação política é analisada do ponto de vista das ações do poder municipal e das elites na produção dos espaços públicos e das indefinições que, nesse agir, se identificam na defesa dos interesses públicos e privados. A acumulação de capital é abordada pelo surgimento de novos produtos imobiliários que aumentam a reprodução e a circulação do capital, estimulando a obsolescência de antigas formas e conteúdos, apresentando a cidade ou parte dela na embalagem de um novo produto a ser comprado e consumido, mas que também questionam diretamente a relação entre o público e o privado. Finalmente, a esfera da realização da vida materializa-se nos espaços públicos que possibilitam práticas cotidianas de lazer, de consumo, de circulação etc. Os novos espaços “públicos” (semipúblicos ou pseudopúblicos) negam ou ocultam as diferenças e os conflitos, tornando a sociabilidade mais “clean” e, em último termo, negando-a.
A fim de compreender a relação entre espaço e a dominação política no Brasil, o autor remete-se ao período colonial brasileiro, mostrando como na transição do período colonial para o republicano, a terra que antes não era tida como patrimônio (o patrimônio era a quantidade de escravos) passa a ser após a abolição da escravatura através da Lei de Terras de 1850.
O autor para analisar a distinção entre os espaços públicos e privados remete-se a Martins, que acredita que a distinção entre publico e privado ficou restrito ao patrimônio publico e ao patrimônio privado, esfera da propriedade e não aos direitos das pessoas. Com relação ao surgimento dos espaços próprios da elite, este, está quase sempre associado ao questionamento da relação público-privado. Em primeiro lugar, porque os espaços da elite são fundamentalmente espaços privados ou de acesso restrito. Em segundo lugar, porque na produção desses espaços quase sempre está envolvido o poder público, seja por ação (aplicação de recursos, implementação de obras, criação de leis) ou por omissão, deixando as coisas acontecerem à margem da legalidade. Nesse contexto, os espaços próprios apresentam a característica de ser globais ou homogêneos porque repetem as mesmas formas e conteúdos, (mesmo que só no plano da representação), fragmentários porque fraturam o espaço urbano, do ponto de vista físico, e também por contribuírem com o rompimento das relações, e hierárquicos porque se impõem (ou tentam se impor) como a parte moderna da cidade.
Com relação à acumulação do capital, o autor trás a idéia de que a cidade também é construída e reconstruída à imagem do capitalismo, no sentido de auxiliar na superação das suas crises e constituir-se como parte das “soluções espaciais” adotadas como ajustes nos sistemas produtivos e nas formas de circulação e consumo. Os shoppings centers e os loteamentos fechados representam produtos que expressam novas formas e práticas para antigas ações consumo, lazer e moradia, contribuindo na sua materialização para o processo de acumulação de capital. Essa dinâmica fragmenta os espaços, pois esses espaços têm poucas ou nulas relações com as suas adjacências, e hierarquizam os lugares, uma vez que a reprodução do capital separa e tende a ressaltar as especificidades dos lugares para facilitar a sua comercialização, esse processo também modifica as práticas de consumo comandadas por valores subjetivos e ideológicos que expressam o desejo de dispor desses novos espaços, que passam a ser conceituados como indicadores da modernização.
O autor distinguiu dominação de apropriação, utilizando Lefebvre ela ressalta que no plano da dominação, o cotidiano se reduz ao âmbito das mercadorias, do consumo, da prevalência do valor de troca sobre o valor de uso. Porem a maneira como os usuários se apropriam do espaço constituem uma superação da racionalidade planejada e dominante que tenta se impor na cidade, sendo o espaço da apropriação o espaço do usuário, espaço do vivido. Portanto a vida cotidiana remete-se à relação entre espaços de representação (vividos, concretos, subjetivos, apropriados) e as representações do espaço (abstratas, objetivas, dominadoras).
O autor finaliza o texto propondo uma redefinição do espaço publico sobre bases sociais discutidas e ajustadas, afim de rediferenciar o espaço de modo que este não siga mais a lógica econômica do capital e os interesses políticos de sua classe. Só assim como dizia Milton Santos, o feitiço se voltaria contra o feiticeiro.

Resumo: Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde.

TEMA DO PROJETO: Mecanismos utilizados pelos profissionais na condução da assistência sexual da mulher em postos de saúde de Salvador e a apreensão das usuárias acerca deste serviço

ARTIGO: Pereira, Queli Lisiane Castro et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto contexto -enferm., Jun 2007, vol.16, no.2, p.320-325.

GRUPO DE PESQUISA: Ana Paula Plantier, Daniela Miranda, Karina Neville, Roberta Reis e Uila Neri.


O objetivo do estudo foi o de relatar a experiência referente ao processo de (re) construção de um grupo de planejamento familiar numa Unidade Básica de Saúde (UBS) num bairro do Rio Grande – RS, localizado na periferia do município, a partir de conceitos concernentes a educação popular em saúde com uma especial atenção aos ensinamentos de Paulo Freire no que tange a esta temática.
A população do estudo foi constituída por 46 mulheres cadastradas na Unidade Básica de Saúde. No tocante à composição desse grupo uma pontuação é pertinente. A captura dessas mulheres foi possibilitada pela retomada do cadastro das antigas usuárias, as quais abandonaram o serviço que naquele momento tinha o seu funcionamento caracterizado por palestras seguidas de distribuição de anticoncepcionais orais às usuárias. Este modelo de trabalho revelou-se ineficaz, ao ancorar-se em uma educação em saúde desconectada da preocupação com a cidadania e autonomia dos sujeitos, representando uma educação bancária – conceito de Freire. As Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) foram pessoalmente apresentar a cada antiga usuária a nova proposta metodológica de trabalho do grupo de planejamento familiar entendida como mais dinâmica e participativa. Concomitantemente, foi realizada a procura por outras mulheres, as quais não participavam do antigo grupo que se desintegrou em 2002, mas que demonstraram interesse em aderir a uma proposta de educação popular em saúde com caráter operativo e participativo no qual todos buscam um objetivo comum – planejar suas famílias consonante com uma visão crítica do mundo, sem desconsiderar o seu contexto sóciopolítico e cultural. A equipe de saúde é constituída por uma psicóloga, uma enfermeira, três agentes comunitários de saúde e, além disso, o grupo contava coma assistência de um médico para atendimento ginecológico.
O trabalho na UBS era realizado em duas modalidades de atendimento: grupal e individual. Esta estratégia – ofertar a cada usuária um espaço para um momento individual – possibilitou uma abordagem coletiva do ser sem, contudo, desvalorizar a individualidade.
Das discussões geradas no/pelo grupo no decurso dos encontros algumas constatações foram possibilitadas. Foram encontrados alguns indicadores de que a maior parte das usuárias atribuíam ao planejamento familiar a função de dar pílulas e persuadi-las a fazer laqueadura. Nesse sentido, percebemos uma preocupação por parte da equipe em desmistificar esta crença e fomentar um espaço dialógico, para troca de experiências familiares e das variáveis que influem na decisão de planejar a família. Um resultado significativo dessa pesquisa diz respeito à verificação da transformação do grupo em um local de expressão coletiva no qual cada usuária tem o direito a sua voz assegurada. O que sugere uma mudança na relação com a equipe de saúde a qual tornou-se mais aberta horizontal. Ademais, com a nova abordagem de grupo, observou-se um acréscimo na procura das mulheres pelos serviços educativo-preventivos oferecidos pela UBS, maior engajamento dos parceiros das usuárias no processo de planejamento familiar, através do resgate encetado pelas mesmas, do papel do pai em relação aos filhos e do cônjuge em relação ao casal.
Finalmente, o resultado mais significativo para o nosso projeto refere-se a uma estratégia otimizadora do serviço adotada pela UBS, a saber, visando uma maior resolutividade na extensão do seu programa de planejamento familiar a equipe de saúde buscou estabelecer um convênio com o hospital universitário. Esta parceria, a qual alcançou resultados favoráveis sensíveis no funcionamento do serviço, nos faz pensar que as mudanças e o aperfeiçoamento no modelo de promoção da saúde estão atrelados à maneira como a equipe de saúde por meio de suas práticas elabora e desenvolve o saber.
A experiência de educação popular em saúde descrita expõe resultados importantes para a construção de uma nova forma de conceber a saúde, sobretudo no sentido da consolidação de um trabalho efetivamente capaz de inserir comunidades e usuários no processo de cuidar e promover a saúde. Quando nos referimos a nossa realidade observamos que a equipe de saúde tem como uma estratégia provável o direcionamento de suas ações, embasada nas políticas públicas, para o mais íntimo possível da família e da comunidade, tendo como balizador e objetivo o atendimento integral. Nesse sentido, as ACS tornam-se absolutamente necessárias à equipe, pois pertencendo a comunidade estão inseridas num mesmo contexto e são conhecedoras dos anseios e necessidades das usuárias.

domingo, 25 de maio de 2008

TEMA DO PROJETO:

As implicações psicossociais da revelação diagnóstica na perspectiva dos pacientes com HIV/AIDS e dos profissionais de saúde.

ARTIGO:

MORENO, Diva Maria Faleiros Camargo. Comunicação do resultados do teste HIV positivo no contexto do aconselhamento sorológico: a versão do cliente/Communicating the HIV positive result within the counseling process: the subject's version. São Paulo; 2006. 200 p.

O artigo informa que o aconselhamento, enquanto estratégia de combate à epidemia da Aids, foi selecionado pela Organização Mundial da Saúde por ser um método de ajuda, apoio e prevenção. Nesse sentido, o mesmo, apresenta a análise das características das interações entre o aconselhador e o cliente no processo da revelação do diagnóstico positivo para HIV. O estudo foi realizado em dois centros de testagem e aconselhamento em DST e Aids do município de São Paulo, baseando-se na versão dos clientes e tomando por referência suas repercussões sobre os procedimentos e resultados da atividade. A técnica de coleta utilizada para levantamento de dados, foi a entrevista em momento posterior ao aconselhamento pós-teste. Foram realizadas entrevistas com 14 sujeitos do sexo masculino. Os critérios escolhidos para inclusão no estudo foram: ter 18 anos ou mais; ter resultado positivo no teste anti-HIV; e ter participado do processo de revelação do diagnóstico de infecção pelo HIV nos serviços pesquisados. Para organizar os dados, a autora utilizou a técnica de análise de conteúdo por entrevistas e por tema, construindo categorias analíticas segundo os objetivos do estudo. Os dados foram analisados e interpretados por meio da utilização, de conceitos da teoria psicanalítica de D. W. Winnicott.
Com base nos relatos, a autora considera que os profissionais seguem bem o protocolo do aconselhamento, atingindo seus objetivos de: a) lidar com os sentimentos provocados pelo diagnóstico positivo para o HIV; b) dar ao cliente a oportunidade de expressar seu sofrimento e angústia; c) sustentar as dificuldades de compartilhar a notícia com familiares e parceiros; e d) tirar dúvidas sobre prevenção de DST/HIV e sobre a terapia antiretroviral. Os contextos de aconselhamento investigados caracterizam-se pelas interações de ajuda e suporte para a maioria dos entrevistados, funcionando como realidade compartilhada e dando sustentação para seus sentimentos e preocupações. A despeito disso, alguns clientes sentiram falta de espaço para discussão e de mais tempo para abordarem questões pessoais, além daquelas relacionadas à sua nova condição de portadores de HIV.
Por fim a autora conclui que, na versão dos clientes, os aconselhadores os acolhem informam e apóiam em suas necessidades. A análise revelou os processos psicológicos que operam no momento do aconselhamento pós-teste entre o sujeito de pesquisa e o aconselhador. A escuta do cliente é a condição primordial para que o ambiente de compartilhamento se instale. O estudo fornece subsídios para melhorar a qualidade deste serviço prestado à população.
Tema: A busca da rede de apoio como estratégia de enfrentamento para os pais de crianças portadoras de autismo

Artigo: FONTES, Breno Augusto Souto Maior. Redes sociais e saúde: sobre a formação de redes de apoio social no cotidiano de portadores de transtorno mental. Revista de Ciências Sociais, n.26, p.87-104, abril/2007.

O presente artigo é descritivo e comenta principalmente sobre a reforma psiquiátrica e suas conseqüências: ganhos positivos para os portadores de doença mental, calcados no apoio social e modificações – nem sempre positivas – na dinâmica governamental e social.

O autor inicia o artigo falando que as reformas psiquiátricas estão começando a ganhar espaço de discussão, o que faz com que os métodos de tratamento sejam revistos e modificados, ainda que timidamente. Ou seja, a visão que se tinha do doente mental e da forma que ele deveria ser tratado passa de uma abordagem de exclusão social e condenação moral para uma abordagem humanística e integradora. Assim, a reintegração do indivíduo na sociedade se faz muito importante, porque visa uma melhoria na qualidade de vida e de tratamento do paciente. O autor coloca que o campo dos cuidados da saúde vai além dos profissionais da área médica e inclui também associações voluntárias, ONGs, família, vizinhos, amigos, etc. Estes meios de cuidados constituem o apoio social, o qual é indiscutivelmente relevante para as pessoas. O conceito de apoio social é mais complexo do que se imagina e está relacionado ao de solidariedade. Ele ressalta que a solidariedade tem uma lógica bem diferente da lógica mercantil e estatal, as quais são calcadas na racionalidade instrumental: dinheiro e poder. Portanto, a troca material, elemento chave nas relações contemporâneas, não pode ser vista da mesma forma na soliedariedade, pois a troca que ocorre neste caso é mais complexa e inclui elementos como interdependência mútua, reciprocidade e vínculo social. Os elementos da solidariedade estão presentes nas pessoas que movem o mercado e o Estado, mas o apoio social (que gera cuidado a doentes ou pessoas com necessidades, apoio emocional, atenção e conforto psicológicos resultantes das interações etc.) tem efeitos muito positivos em relação à saúde das pessoas e não pode ser substituído pela atenção dada pelo Estado. No entanto, a partir destas concepções e com a diminuição dos leitos dos hospitais psiquiátricos (devido à instalação dos CAPs), o que está acontecendo também é um desengajamento do Estado neste processo, pois o governo se exime da responsabilidade e deixa todos os cuidados a cargo das entidades municipais e civis, das famílias e outras instituições. Além disso, freqüentemente a perpetuação de velhas mentalidades não colabora com o caminhar de uma mudança positiva. Muitas vezes as famílias não encontram apoio prático para a discriminação e a solução mais fácil é isolar o doente mental em casa, com pouco ou nenhum convívio social. Também os profissionais ainda dão relevância maior ao tratamento medicamentoso do que outro que se apresente como alternativo.

Este artigo deixa a reflexão que as – lentas – mudanças de concepção de tratamentos ao doente mental, baseadas principalmente na inclusão social, já são um salto qualitativo relevante; porém nenhuma mudança é fácil e demanda muita atenção em vários setores da vida cotidiana para que possa acontecer efetivamente.

sábado, 24 de maio de 2008

TDAH - Tratamentos

Pergunta: Como diferentes formas de tratamento, medicamentoso e psicoterápico, contribuem na adequação social de pacientes com Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA) no contexto familiar

Artigo: SOUZA, E M L & INGBERMAN, Y K Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Características, diagnóstico e formas de tratamento. Rev. InterAÇÃO, Curitiba, v.4, p32 a 37, jan/dez, 2000.

Resumo: Segundo suas autoras, o artigo em questão visa fornecer um panorama geral do Transtorno de Déficit de Atenção em relação aos comportamentos que acompanham tal transtorno ou dele decorrem, bem como suas conseqüências para a vida do indivíduo. Trata-se de um estudo descritivo que, empregando um método de revisão bibliográfica, faz uma descrição dos principais comportamentos, formas de diagnóstico e tratamentos associados ao transtorno. Os principais resultados deste estudo são apresentados a seguir:

O TDAHI possui como características nucleares desatenção, hiperatividade e impulsividade. Entretanto, segundo as autoras, existem características adicionais que podem ser encontradas em indivíduos com TDAH, dentre elas a desorganização, problemas de memória, inconsistência e flutuações no comportamento, agressividade, auto-imagem e autoconceito pobres e deficiências na coordenação motora. Podem também estar presentes distúrbios comórbidos como transtornos de humor (depressão) e transtorno de conduta (ou transtorno desafiador de oposição), sendo que este último transtorno teria sua comorbidade descrita em 30 a 50% dos casos, e aumentaria o risco de uso de drogas especialmente em adolescentes.

Quanto ao diagnóstico, seria feito com base em critérios do DSM IV distribuídos em 2 módulo: sintomas de desatenção e de hiperatividade/impulsividade. Para avaliação dos sintomas, é necessário que se avalie a história do sujeito a partir de informações c/ pais, professores e c/ a própria criança. Segundo as autoras, cabe avaliar ainda todo contexto do qual a criança hiperativa faz parte, pois muitas vezes o diagnóstico vem apenas refletir um padrão disfuncional de relações em toda uma família ou em todo um grupo. Assim, uma vez satisfeitas características para realizar o diagnóstico, o profissional não deve, contudo, acomodar-se e deixar de avaliar todas as relações da criança, já que estas podem estar envolvidas diretamente coma a criação ou manutenção do problema. Sendo assim, segundo as autoras, de maneira alguma se deve considerar que só a medicação basta p/ tratar o comportamento hiperativo, pois este pode estar expressando um conjunto de situações sobre as quais é preciso atuar.

Sobre formas de tratamento, apontam como tratamento mais eficaz o que envolve a combinação de medicamento e psicoterapia. As medicações mais utilizadas são os psicoestimulantes que melhoram a atenção e diminuem a atividade e impulsividade na maioria das crianças c/ TDAHI; Já a psicoterapia combinada pode levar à redução da dosagem de medicação (o estudo não especifica outras contribuições da psicoterapia), as intervenções psicoterápicas comportamentais podem seguir pressupostos teóricos cognitivistas, ou basearem-se na Análise Comportamental ou em ambos. Salientam também o papel no tratamento do apoio e compreensão da família e das pessoas que mais convivem com a criança. Para as autoras é essencial que a seleção de estratégias para tratamento se baseie em cada criança individualmente, pois cada uma apresenta respostas próprias ao tratamento; conforme os sintomas da criança e os ambientes nos quais convive, as intervenções podem ser incluídas em casa, na escola e em ambientes na comunidade. Neste caso, o terapeuta deve orientar pais, professores e até colegas.

Equipe: Gerusa Córdova e Susana Rebouças

terça-feira, 20 de maio de 2008

Autismo e Estratégias de Enfrentamento

Tema: A busca da rede de apoio como estratégia de enfrentamento para os pais de crianças portadoras de autismo

Artigo: Fávero, Maria Ângelo Bravo e cols. Autismo infantil e estresse familiar: Uma Revisão Sistemática da Literatura.Psicologia: Reflexão e Crítica. São Paulo, n. 18(3), pp. 358-369, 2005.

O artigo visa avaliar de forma sistemática a produção bibliográfica constituída por relatos de pesquisa indexados nas bases de dados Medline, PsycInfo e LILACS, produzida de 1991 a 2001, sobre o tema do impacto psicossocial em famílias de crianças portadoras do transtorno autista. Essa revisão propõe-se a verificar a influência deste impacto na forma de estresse parental crônico, como fator que afeta os cuidadores diretos ( mais especificamente os pais) e contribui na ocorrência de alterações na dinâmica familiar.A preocupação que norteia esta revisão é a busca de evidências que permitam caracterizar a influência da sobrecarga recorrente dos cuidados especiais exigidos pela criança autista sobre os cuidadores diretos e o funcionamento familiar, compreendendo também de que forma estes cuidadores lidam com essa dificuldade.A pesquisa bibliográfica foi operacionalizada mediante a busca eletrônica de artigos indexados nas bases de dados citadas anteriormente. A amostra da pesquisa foi artigos de periódicos selecionados a partir da leitura prévia de seus resumos, com alguns critérios de inclusão, tais como: veículo de publicação, ano e idioma de publicação, modalidade de produção científica, referências que tiveram como objeto de estudo o casal parental com filhos em idade infantil bem como as que comparam o impacto psicossocial do autismo com outras psicopatologias da infância e a sobrecarga emocional do transtorno autista na família. Após esta etapa, foi feita a leitura analítica e integral da cada estudo, a identificação das idéias-chave, a hierarquização dos principais achados e a síntese dos resultados. Em seguida, foi necessário uma análise temática, e assim, pôde-se fazer uma exploração do material( busca de sínteses convergentes e divergentes de idéias) e a interpretação dos dados. Os trabalhos qualificados desta maneira compõem a base da revisão elaborada através de uma análise descritiva e qualitativa da amostra bibliográfica, a partir de uma síntese do que os autores encontraram acompanhada de uma discussão crítica do material coligido.No total foram lidos 290 artigos, sendo que destes, foram selecionados, de acordo com os pré-requisitos citados, 48 artigos, os quais foram lidos na íntegra e qualificados visando sua qualidade metodológica. As buscas indicaram maior quantidade de artigos no ano de 1992, com destaque para maior incidência de publicações nos Estados Unidos. A análise que envolveu um detalhamento dos principais artigos, possibilitou uma integralização. Os principais achados dos artigos foram: estresse parental na família de crianças autistas, comunicação funcional, grupos comparativos, interações familiares, estratégias de enfrentamento (coping) diante do estresse parental, resiliência, atendimento psicoterápico e compreensão do transtorno.De modo geral, foi possível detectar a partir dos dados coletados, que o estresse dos pais de crianças autistas apareceu ligados a fatores tais como o prejuízo cognitivo da criança, a gravidade dos sintomas e as tendências agressivas do filho. Porém, um fator mediador desse estresse foi o suporte social que, quando percebido, favoreceu um melhor ajustamento familiar. Os estudos ofereceram consistência à hipótese de sobrecarga emocional, física e financeira no cuidado com o portador de necessidades especiais, principalmente nas mães dessas crianças, além de uma dificuldade na representação da idéia de uma vida normal. Os autores enfatizam a importância da parceria entre pais e programas de apoio no planejamento das metas para o desenvolvimento da criança, como perspectiva potencial futura, afetando os pais quanto à colocação nas atividades externas da casa.

Componentes: Ana Thereza Martins, Isabele Plácido, Lhaís Alves, Nelma Oliveira e Sérgio.

Equipe: Fernanda Leão, Mayra Freire, Mariana Maracajá e Priscila Galvão

Tema do projeto: A elaboração do luto antecipatório pelos familiares de crianças com câncer

Artigo: Menezes,C.N.B.,Passareli,M.P.,Drude,F.S.,Santos,M.A. Câncer infantil: organização familiar e doença. Revista Mal-estar e subjetividade – Fortaleza– vol.VII – Nº 1. p. 191-210, Mar/2007.


O artigo se trata de um estudo bibliográfico que objetivou investigar a literatura psicossocial sobre as experiências das famílias que têm crianças e adolescentes com câncer, publicada no contexto brasileiro nos últimos dez anos. Desde a década de 1970, vem-se observando um aumento linear das taxas de cura dos tumores na infância, que variam, atualmente, entre 70% e 90% dos casos, em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. No Brasil, as crianças e jovens com leucemia linfática aguda (LLA) curam-se em 70% a 80% dos casos (Brasil, 2005).
Frente a essa expectativa favorável de cura do câncer infantil, seu diagnóstico e tratamento adequados assumem um importante papel no processo de remissão dos sintomas. Considerando que o câncer infantil perdeu sua qualidade de doença aguda e fatal, passando a ter características de doença crônica e que, em muitos casos, tornou-se “passível de cura” (Valle, 1994, p. 219), a investigação dos fatores psicossociais relacionados ao tratamento torna-se relevante nos estudos atuais.
A literatura oferece evidências de que o acompanhamento psicológico individual ou em grupos homogêneos permite que o familiar que exerce papel de acompanhante da criança ou do adolescente também seja ouvido. Para tanto, preconiza-se a oferta de espaços diferenciados de acolhimento, nos quais os pais possam esclarecer suas dúvidas e dividir suas apreensões, de modo a compartilhar experiências com outras pessoas que se encontram na mesma situação vital. A assistência psicológica tem sido preconizada como estratégia vantajosa no acolhimento dos cuidadores familiares, alicerçada no pressuposto de que, se cuidamos da saúde mental do cuidador familiar, ele pode realizar suas tarefas específicas de cuidados ao paciente com melhor qualidade, além de oferecer-lhe suporte emocional. De um modo geral, como mostram Lopes e Valle (2001), o câncer infantil e seu tratamento têm um impacto sistêmico sobre a organização familiar, que a torna vulnerável ao sofrimento psíquico que atinge não apenas a criança, como também seus cuidadores. Considerando as implicações biopsicossociais da enfermidade e as complexas demandas da terapêutica, a inclusão dos pais no tratamento do câncer infantil é extremamente importante. Para assumirem suas funções de colaboradores, os pais precisam estar em plenas condições para se envolverem no processo, que é longo e inclui procedimentos intrusivos, como cirurgia e sessões de quimioterapia e radioterapia, que podem deixar a criança ainda mais vulnerável e debilitada.
É preciso considerar que o cuidador familiar também está enfrentando um momento de intenso sofrimento ao acompanhar o adoecimento de seu filho e, por essa razão, muitas vezes ele próprio irá necessitar de cuidados. A propósito, examinando as publicações da área, Oliveira, Torrano-Masetti e Santos (1999) concluíram que um acompanhamento sistemático junto aos familiares do paciente oncológico mostra-se de enorme relevância no contexto da enfermidade de um filho em desenvolvimento, na medida em que pode proporcionar “conforto psíquico e elaboração dos intensos sentimentos de culpa, desamparo e revolta que o adoecer de um ente querido normalmente desencadeia” (p. 49-50).
Assim, nos centros de tratamento, após a confirmação do diagnóstico do câncer, é proporcionado um atendimento pela equipe multidisciplinar tanto para a criança/adolescente quanto para a família. No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, para situarmos apenas um exemplo, essa equipe é composta por médicos especialistas em oncologia infantil, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e nutricionista (Valle e Françoso, 1999).
Os estudos analisados sublinham o impacto a longo prazo que o câncer da criança tem em suas famílias. Os resultados também indicam que as intervenções que focalizam a sustentação emocional, o bem-estar dos pais e a maneira como as famílias percebem a saúde de sua criança com câncer podem beneficiar a família como um todo.
De um modo geral, a literatura tem evidenciado que o trabalho realizado por uma equipe multiprofissional que conta com o profissional de Psicologia facilita o delineamento de um protocolo de tratamento mais adequado, desde a etapa da transmissão do diagnóstico, passando pelos diferentes estágios do tratamento, até o acompanhamento regular da criança e da família nas fases livres de doença. Até mesmo naqueles casos em que a morte é inevitável, as intervenções psicológicas são fundamentais para auxiliar os pais a elaborarem o processo de luto. Os pais enlutados precisam ser amparados, acolhidos em sua profunda dor, para que possam doar significados à experiência dolorosa e encontrar outros sentidos que lhes permitam sobreviver à perda e prosseguirem suas vidas. Nesse aspecto verifica-se, mais uma vez, a importância de um trabalho em conjunto da equipe multiprofissional, pois a família precisa estar bem preparada para acompanhar o processo de ruptura do vínculo afetivo e o progressivo desinvestimento emocional que se segue à perda. Em um outro tipo de desfecho do tratamento oncológico, felizmente cada vez mais freqüente graças aos avanços científicos e tecnológicos que têm revolucionado a área da oncologia nas últimas décadas, a doença pode ser finalmente superada, o paciente entra em estágio de remissão de seus sintomas e não acontece sua reincidência. Porém, é importante considerar também que a cura é um processo gradual, que exige atenção constante e cuidados permanentes dos pais e da criança. Ela vai retomar suas atividades cotidianas aos poucos, até que possa, enfim, recuperar os antigos hábitos e atividades que costumava realizar antes da doença. A família, simultaneamente, precisará sofrer uma reorganização interna, a fim de poder abrigar essa criança que “renasceu”, do ponto de vista físico e psicológico.

Resumo

TEMA DE PESQUISA: Ganhos significativos proporcionados pelas terapias alternativas em pacientes oncológicos.

ARTIGO:
O USO DE PRÁTICAS TERAPÊUTICAS ALTERNATIVAS,
SOB A ÓTICA DO PACIENTE ONCOLÓGICO E SUA FAMÍLIA

Sidnéia Tessmer Casarin
Rita Maria Heck
Eda Schwartz


RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo identificar as práticas terapêuticas alternativas comumente utilizadas por pacientes oncológicos e os significados que essas práticas adquirem no cotidiano do paciente e da família, durante o desenvolvimento da doença e do tratamento.
O estudo tem caráter qualitativo do tipo descritivo, porque observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los; e exploratório, porque permite ao investigador aumentar sua experiência em torno de uma determinada problemática, já que parte de uma hipótese e aprofunda os estudos no limite da realidade científica . Aos entrevistados foram garantidos sigilo e anonimato, bem como a liberdade de desistir em qualquer momento do trabalho, e o livre acesso aos dados coletados.
O estudo foi realizado na unidade de oncologia de um hospital de médio porte, referência do Sistema Único de Saúde (SUS), na região sul do Brasil. Os participantes foram os clientes que estavam fazendo tratamento quimioterápico, no respectivo setor. No primeiro momento obteve-se uma amostra de 30 pessoas selecionadas através de uma entrevista semi-estruturada. Estas pessoas forneceram subsídios para a identificação de 4 pessoas que receberam visita domiciliar onde foi aplicada a segunda entrevista.
Os resultados, para melhor compreensão foram divididos em 4 categorias: Os significados das terapias alternativas; identificação das práticas alternativas utilizadas; conhecimento e/ou desconhecimento do uso das práticas alternativas pelos profissionais de saúde; dilemas enfrentados pelos pacientes e familiares em face ao uso das práticas alternativas e o tratamento alopático. Verificou-se que a maoiria dos pacientes estavam há mais de 24 meses realizando quimioterapia, e 57% destes faziam, paralelamente, algum tratamento alternativo. As mulheres entre 40 e 50 anos, diante dos resultados, eram as que mais recorriam aos tratamentos alternativos, porém não tinham a liberdade de discutir essas práticas com o médico, gerando um dilema familiar.
O presente estudo mostrou, também, que o uso de práticas terapêuticas alternativas não nega o tratamento convencional, mas permite à pessoa, e não apenas como paciente, bem como aos familiares, participar mais ativamente e expressar autonomia em relação à superação da doença, mesmo quando não se tem liberdade de comentar o tratamento auxiliar com os profissionais de saúde que o estão supervisionando.


GRUPO: Bruna Improta, Elizabeth, Márcia Lisboa e Maria Luiza.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

BARCELLOS, Tanya M.; MAMMARELLA, Rosetta. O Significado dos Condomínios Fechados no Processo de Segregação Espacial nas Metrópoles. Porto alegre, 2007.


As autoras discutem o tema mostrando como a inserção do Brasil no processo de globalização aumentou as desigualdades sociais, promoveu a exclusão de grande parte da população, fragmentando a sociedade. Uma das evidencias dessa fragmentação é a forma como o território urbano vem sendo apropriado. Segundo Ueda (2004), a apropriação do espaço pelos condomínios fechados provoca uma descontinuidade urbana através da periferização das áreas centrais e tornando centrais as tradicionais áreas periféricas, provocando mudanças das relações entre sociedade, economia e território As autoras citam Caldeira (1997), este denomina os condomínios fechados de “enclaves fortificados”, visto que estes ampliaram suas funções não servindo apenas como moradia, mas como local para consumo, lazer, trabalho, etc. tornando-se áreas privadas para uso coletivo, porém de forma individualizada, destinados as classes mais abastardas devido ao valor da moradia.

O interesse por este tipo de empreendimento é tanto por parte dos empreendedores que visam maior lucratividade na venda desses condomínios, quanto por parte dos moradores, que buscam uma melhor qualidade de vida, um ideal de moradia, convivência, vizinhança, protegidos contra a violência, situação privilegiada em relação aos que estão do lado de fora dos muros.

As construtoras e moradores vêem o condomínio privado como uma resposta ao declínio dos espaços públicos nas grandes cidades, declínio este, segundo os mesmos, devido à apropriação das camadas sociais mais pobres, sendo o condomínio privado uma espécie de sintoma dessas patologias urbanas (dentre as quais a exclusão social é destacada).

O publico e o privado nos condomínios fechados

Dentre os vários aspectos presentes na relação publico versus privado nos condomínios fechados as autoras iniciam abordando o fato dos condomínios serem totalmente opostos às idéias do urbanismo moderno, visto que, a cidade é um espaço democrático, onde a pluralidade e a convivência com as diferenças, com o inusitado, têm valor positivo. Esses novos condomínios criam espaços de convívio coletivo intra-muros, que tem características de espaços públicos, porem controlados socialmente e seletivos no uso, negando, portanto sua diversidade típica, criando um ambiente homogêneo socialmente.

Outro aspecto levantado é o fato de esses condomínios fechados estarem se apropriando indevidamente de espaços públicos. Segundo Cadeira (1997), apesar de terem como modelo o planejamento urbano e a arquitetura modernista, comumente se percebe um “ataque as ruas”, sendo o espaço urbano concebido de modo a eliminar a atuação dos pedestres e consequentemente das anomias e imprevisíveis interações em publico.

Nesses “enclaves fortificados” os espaços públicos são eliminados, e os privados são expandidos, passando a desempenhar funções públicas de maneira segregada.

O declínio dos espaços públicos também está relacionado aos interesses dos grupos sociais que através do poder econômico, decidem quais espaços são representativos de seu status, constituindo-se no “espelho das relações humanas”.

Violência e medo na vida urbana

As autoras ressaltam nesta parte do artigo que a idéia de uma cidade perigosa vem levando os mais abastardos a espaços exclusivos e seguros, segundo o mesmo (autor), a violência é uma das principais justificativas tanto para os moradores quanto para os que vendem a idéia de morar atrás dos muros, que neste caso usam os índices de violência sem o devido rigor, tratando a violência como algo generalizado.

Este perigo iminente tem feito com que os moradores dos condomínios fechados gastem 20% do condomínio com segurança, modificando a relação entre segurança privada e policia que em São Paulo, por exemplo, era em 1985 de três policiais para um privado, em 2005 o numero de seguranças privados era de 400 mil e o de policiais 120 mil.

Segregação e fragmentação na cidade: o que há de novo?

Segundo as autoras, no caso dos condomínios o risco (ou a tendência) é a criação de descontinuidades territoriais, intensificando a segregação social. Esta (segregação) não se realiza quanto produto de atos voluntários, intencionais, constitui-se como resultado, das decisões coletivas. A opção por esse tipo de produto de consumo é feita não para segregar, mas para viver bem, ter status, como todo o discurso de marketing vende.

Portanto, a segregação pode ser pensada como uma conseqüência social advinda de uma idealização imposta pelo mercado.

Considerações finais

Conforme foi acima apresentado, alguns pontos merecem ser destacados, principalmente os relacionados a uma das problemáticas que consideramos centrais nessa discussão, que é a relação entre o público e o privado nesses empreendimentos, nesse caso o sentido do público abarcam diversas dimensões: ao estimular a criação do solo urbano de maneira privada; ao impedir a livre circulação e o convívio democrático entre os habitantes das cidades; ao transferir para a esfera privada encargos que são de natureza pública e de acesso universal.

Com relação à violência, as autoras defendem que a “fratura social” derivada dos muros dos condomínios e de seu conseqüente bloqueio nas possibilidades de relações com o outro, é um dos principais fatores que contribuem para o aumento da violência urbana.

Para finalizar, as autoras afirmam a existência ao longo da história, de espaços onde a elite se diferenciava do resto da população, entretanto, em outros momentos do processo de urbanização, as ruas permaneciam abertas e a possibilidade, por mais remota que fosse, de uma livre circulação de pedestres, existia.


Tema do Projeto:
Como é percebida a apropriação privada de ruas públicas de Salvador pelos seus próprios moradores.

Equipe: Amanda Almeida, Valcleiton e Vítor Vattimo.

RESUMO DE ARTIGO

PERGUNTA: Como diferentes formas de tratamento, psicoterápico ou medicamentoso, contribuem na adequação social de pacientes com Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA) em seu contexto familiar.

Artigo: Conflitos conjugais e familiares e presença de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade(TDAH) na prole: revisão sistemática (Grupo de Estudos de Déficit de Atenção do Instituto da Universidade do Rio de Janeiro/ Geda-IPUB/UFRJ)

Resumo: O entendimento dos diversos problemas de comportamento infantil requer consideração não apenas sobre fatores individuais (sejam eles neurobiológicos ou psicológicos), mas também a compreensão do ambiente em que a criança se desenvolve e como este pode contribuir para a manutenção e/ou agravamento dos quadros clínicos.
Nesta perspectiva uma boa interação com o adulto parece ser elemento essencial, contribuindo para que a criança desenvolva uma melhor percepção das pessoas, objetos e símbolos, modulando seu comportamento e adquirindo os conhecimentos e as habilidades necessárias ao desenvolvimento.
A família exerce influência importante na socialização da criança, que, por sua vez se constitui fator de relevância para o desenvolvimento cognitivo. O núcleo familiar realiza o papel de mediação entre a criança e a sociedade, portanto, o meio básico pelo qual a criança começa a estabelecer suas relações com o mundo.
Esse artigo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática acerca dos aspectos conjugais em famílias de crianças com TDAH, relacionando-os com outras variáveis, como a presença de comorbidades, aspectos socioeconômico e saúde mental dos pais.
O método utilizado foi a revisão sistemática de literatura por meio do PubMed entre os anos de 1996 e 2006 utilizando os termos “ADD”,”ADHD”,”Attention-Deficit”,”marital conflict”e”family”.
Os resultados obtidos foram de dezesseis estudos dentre 628 publicações iniciais e 55 artigos posteriormente incluídos pelas referências bibliográficas foram avaliados. O relacionamento conjugal aparece comprometido em grande parte da literatura, principalmente nos pais daquelas crianças que apresentam distúrbio desafiador e de oposição(DDO) ou distúrbio de conduta comórbidos.Contudo, resultados opostos também são encontrados em diversas pesquisas.As conclusões que se chegaram foram que os resultados de pesquisas referentes ao funcionamento conjugal de pais destas crianças são heterogêneos.
É preciso que sejam feitos estudos longitudinais, que possam esclarecer o impacto do transtorno nos conflitos conjugais de pais de portadores, bem como a influência destes últimos na expressão clínica do transtorno.
Equipe: Gerusa Córdova e Susana Rebouças

domingo, 18 de maio de 2008

Resumo: A dinâmica do cuidado em saúde mental

TEMA DO PROJETO: As relações de poder entre os saberes no cuidado psicopatológico

EQUIPE: André Mattos, Felipe Lôbo, Victor Martins

ARTIGO:

NUNES, M. et al. A dinâmica do cuidado em saúde mental: signos, significados e práticas de profissionais em um Centro de Assistência Psicossocial em Salvador, Bahia, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(1): 188-196, jan., 2008.


O artigo relata uma pesquisa realizada em um CAPS, em Salvador, com o fim de analisar o sistema de signos, significados e práticas em saúde mental utilizados pelos profissionais.
O tema é introduzido apresentando-se os diferentes movimentos, em diferentes países, que levaram aos modelos de reforma psiquiátrica, cujo ponto em comum seria a busca da superação do modelo manicomial, e cujas diferenças residem na magnitude da relação estabelecida com o espaço sócio-cultural. A reforma italiana é a que parece ter tido um maior alcance político, a exemplo da lei de 1978 que extinguia os manicômios. Inspirada no modelo italiano, a reforma brasileira inicia-se no fim dos anos 70, com a proposta de uma atenção psicossocial integrada, práticas interdisciplinares, um sistema extra-hospitalar de cuidados e a defesa da cidadania dos portadores de doenças mentais. Na década de 90, já com maior força, a reforma é marcada pela desospitalização seguida da criação de serviços substitutivos.
A estratégia metodológica utilizada denomina-se sistema de signos, significados e práticas em saúde mental, ‘um modelo semiológico e contextual que busca identificar categorias usadas por diferentes subgrupos de pessoas para identificar, explicar e reagir a problemas de saúde mental’. Foi realizada uma pesquisa etnográfica no CAPS, durante nove meses, além de entrevistas semi-estruturadas com os profissionais de nível superior e três grupos focais.
É destacada a constatação de que o CAPS é uma instituição que se constitui como ‘fonte de vida’ para seus usuários, percepção comum a todos os profissionais, alguns dos quais constatam o efeito benéfico aos usuários por uma intuição afetiva, sem maior reflexão, o que se relaciona à humanização das relações interpessoais. É consenso entre os profissionais que o CAPS ainda tem muitas dificuldades, mas a mudança no modelo de cuidado é evidente. Os profissionais afirmam haver um roteiro de entrevista, para realização da triagem, orientado para abranger os diversos aspectos do problema, de acordo com a proposta de ver a pessoa em sua integralidade. A triagem é também orientada para ser realizada por pelo menos dois profissionais, entretanto, na prática, a orientação não tem sido muito respeitada, assim como o roteiro de entrevista, que acaba tendendo à perspectiva médica.
Diversos trechos de entrevistas são apresentados, ilustrando a análise dos signos, significados e práticas dos profissionais. É observado que, apesar de haver contradições no componente semiológico da pesquisa (o sistema de signos), estas são superadas quando associadas à prática. O modelo asilar parece bem superado, de modo que os critérios de aceitação do usuário dão grande ênfase à dimensão social, não se restringindo aos rótulos de neurótico e psicótico grave; a avaliação da evolução clínica também valoriza bastante a dimensão social.
A partir da observação das diferentes concepções de cuidado em saúde mental no CAPS estudado, foram delimitados três modelos distintos de cuidado. O primeiro, chamado de ‘modelo biomédico humanizado’, tem ênfase na psicopatologia, com um cuidado assistencialista e pedagógico, visando uma mudança de comportamento que possibilite a reinserção social. O segundo é o ‘modelo psicossocial com ênfase na instituição’, que traz o cuidado psicossocial, mas limitado à instituição, com influência da clínica psicanalista. O terceiro, o ‘modelo psicossocial com ênfase no território’, valoriza mais os aspectos sociais, vinculando seu trabalho com as esferas familiar e comunitária.
Argumenta-se que há vantagens e desvantagens em cada modelo, e que, apesar das divergências, há um reconhecimento geral da particularidade dessa nova modalidade de cuidado em saúde mental que o CAPS representa. As relações interpessoais tomam o primeiro plano, antecedendo as técnicas terapêuticas, em contraste com o modelo asilar, havendo também avanço no trabalho clínico. Foi percebida, entretanto, uma escassez de discussões acerca dos aspectos teórico-metodológicos por trás dos diferentes modelos de cuidado. Por fim, são apresentadas algumas reflexões sobre esse processo de mudança, que apesar de caminhar na direção almejada, ainda encontrada seus empecilhos.

Resumo do Artigo

TEMA DO PROJETO: Mecanismos utilizados pelos profissionais na condução da assistência sexual da mulher em postos de saúde de Salvador e a apreensão das usuárias acerca deste serviço

ARTIGO: ÀVILA, Maria Betânia. Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde. Cad. Saúde Pública, v.19, supl.2, Rio de Janeiro 2003.

GRUPO DE PESQUISA: Ana Paula Plantier, Daniela Miranda, Karina Neville, Roberta Reis e Uila Neri.

RESUMO

O presente artigo discorre prioritariamente acerca dos direitos reprodutivos e direitos sexuais, no sentido de posicioná-los na perspectiva transformadora das relações sociais, da luta contra os preconceitos, da garantia do bem-estar e finalmente, da relação entre sexualidade, reprodução e cidadania. Além disso, é feita uma análise acerca dos desafios para as políticas de saúde no âmbito anteriormente referido, vinculados sobretudo à garantia de recursos, qualidade e quantidade de serviços de saúde que respondam às demandas da população e mudanças culturais que produzam uma nova visão sobre a relação entre profissionais de saúde e usuários/as, baseadas nos princípios da cidadania.
Percebe-se que o feminismo foi o movimento que lançou os questionamentos e a idéias que produziram historicamente o conceito de direitos reprodutivos e, além disso, serviram de base para a construção de direitos sexuais. Atualmente esses conceitos são amplamente utilizados, e envolvem muitos outros atores e sujeitos, para além desses que estão ligados a suas origens. São direitos hoje reconhecidos como democráticos e situam-se em agendas políticas no âmbito nacional e internacional.
Neste artigo a perspectiva do direito reprodutivo se faz atrelada à igualdade e à liberdade na esfera da vida reprodutiva, e os direitos sexuais vinculados ao respeito à igualdade e à liberdade no exercício da sexualidade. O que significa tratar sexualidade e reprodução como dimensões da cidadania e, conseqüentemente, da vida democrática. Portanto, traz a importância de tratá-los como dois campos separados, no intuito de assegurar a autonomia dessas duas esferas de vida. Nesse sentido, no artigo defende-se o rompimento com uma moral conservadora, que prescrevia para as mulheres a submissão da sexualidade à reprodução, ou melhor, apóia a liberdade sexual das mulheres como diretamente relacionada à sua autonomia de decisão na vida reprodutiva.
Percebe-se a necessidade de tratar os direitos reprodutivos e sexuais no sentido libertário e igualitário – abordados como campos éticos – e não mais no sentido prescritivo de constituição de modelos e regras. Sendo assim, nota-se que o processo de construção dos direitos reprodutivos e direitos sexuais se integra diretamente ao processo mais amplo do movimento dialético de construção da democracia. Portanto, para as mulheres, a condição de sujeito, construtoras de direitos reprodutivos e direitos sexuais vincula-se ao rompimento com formas de repressão do corpo e da sexualidade – elementos centrais da dominação patriarcal e da sua reprodução.
No sentido de deslocar o princípio lógico da prescrição e controle para o princípio da ética e da liberdade, nota-se a necessidade de políticas públicas dirigidas à justiça social, além disso, formuladas e executadas levando-se em conta as desigualdades de gênero, de classe, de raça e de expressão sexual. No que concerne às políticas sociais na área de saúde é relevante o fato da reprodução e da sexualidade constar como áreas específicas da política geral de saúde pública. Gravidez, parto, puerpério, aleitamento materno, concepção, contracepção, aborto, doenças sexualmente transmissíveis e violência sexual são questões cruciais que hoje estão colocadas para a política de saúde.
A saúde, como dimensão da política pública, tem sido um tema central para todos os setores que trabalham e agem politicamente em torno dos direitos reprodutivos e dos direitos sexuais, em particular no Brasil e na América Latina. A demanda por políticas de saúde como base para o exercício desses direitos é, portanto, intensa e priorizada pelos movimentos sociais. Nota-se então a necessidade de fortalecer a importância da saúde e ao mesmo tempo afirmar a relação dos direitos reprodutivos e sexuais com outras esferas da política pública e da vida social.
Uma política pública de saúde comprometida com a promoção integral dos direitos reprodutivos e sexuais representará uma conquista política para democracia. Já que estes são vistos como direitos sociais, e vinculados à defesa de um Estado promotor de bem-estar e de transformação social. São exemplos citados pelo artigo dessa configuração a luta pelo Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e a luta por uma política de saúde voltada para HIV/AIDS.
Portanto, nota-se a necessidade de mudanças atuais nas políticas sociais e de saúde, vinculadas principalmente a elementos como: No campo econômico, à necessidade incontornável de mudança para uma política econômica redestributiva que assegure recursos suficientes na promoção do bem-estar social; a reconstrução do setor público de saúde dotando-o de meios físicos adequados, tecnologia e recursos humanos que respondam com eficiência aos problemas da população; a formação técnica para lidar com reprodução e questões da sexualidade, mas a formação enquanto consciência de cidadania que implica o se reconhecer e reconhecer o/a outro/a como cidadão/ã; romper com o conservadorismo e o preconceito que não só discriminam socialmente, mas afetam a saúde física e mental das pessoas e as vulnerabilizam, e portanto não podem fazer parte da relação entre os profissionais da saúde e os/as usuários/as dos serviços. Assim, o presente artigo se faz importante ao enfatizar, dentre outros aspectos, a necessidade de romper com tabus e preconceitos historicamente construídos sobre a vida sexual e reprodutiva, já que estes têm se constituído em um impedimento para uma atenção integral de qualidade nesses terrenos. Além disso, nota-se que tornar a prática preventiva uma rotina que leve de fato à preservação e à promoção da saúde, invertendo o quadro atual de saúde da população, é um desafio que exige uma estratégia de educação para saúde voltada para a qualificação dos profissionais e também como parte da atenção à saúde prestada à população em geral.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Projeto: As implicações psicossociais da revelação diagnóstica na perspectiva dos pacientes com HIV/AIDS e dos profissionais de saúde.

TEMA DO PROJETO:
As implicações psicossociais da revelação diagnóstica na perspectiva dos pacientes com HIV/AIDS e dos profissionais de saúde
EQUIPE:
Ernani França, Marília Pena e Suilan Rossiter
ARTIGO:
SEIDL, E. M. F.; ROSSI, W. S.; VIANA, K. F.; MENESES, A. K. F.; MEIRELES,E. Crianças e adolescentes vivendo com HIV/AIDS e suas famílias: Aspectos psicossociais e enfrentamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21 (3). (Dis-ponível em www.scielo.br). 2005.
RESUMO:
A conotação da aids como enfermidade crônica ao invés de doença letal deu nova ênfase à qualidade de vida dos adolescentes HIV positivo e novo significado e relevância às necessidades psicossociais dos mesmos. Assim, novos desafios descortinam-se para os cuidadores primários, como a revelação, o início ou continuidade da escolarização, a adesão ao tratamento e o início da vida sexual. Diante dessas dificuldades, os cuidadores têm que desenvolver técnicas próprias de enfrentamento dos estressores, pois é sabido que esses adolescentes possuem maior risco de apresentar problemas de ajustamento psicológico. Junte-se a isso o fato de a maioria desses adolescentes e familiares viver em condições de pobreza e recursos médicos e sociais precários.
Diante das dificuldades detectadas pelos pesquisadores, o estudo propõe-se a (1) coletar dados sociodemográficos, médico-clínicos e familiares dos adolescentes soropositivos; (2) descrever dificuldades e estressores percebidos pelos cuidadores; (3) identificar e analisar estratégias de enfrentamento. Participaram do estudo 43 cuidadores e 43 adolescentes. Como instrumentos os pesquisadores desenvolveram um roteiro semi-estruturado que investigava questões sociodemográficas, condições de saúde da criança/adolescente e condições psicossociais, além da Escala Modos de Enfrentamento de Problemas. O estudo é descritivo, de corte transversal. Como resultados da pesquisa, os autores citam (1) a necessidade de criação de equipes interdisciplinares para fazer um acompanhamento global da criança/adolescente; (2) medo de discriminação no ambiente escolar; (3) dificuldade na adesão ao tratamento, todos esses relacionados a um problema maior: a revelação do diagnóstico de soropositividade. Estudos mostram, no entanto, que a revelação não resulta em aumento de problemas emocionais e comportamentais, além do fato de que estas que sabiam de sua condição eram menos deprimidas e tinham maior suporte social. Em relação às estratégias de enfrentamento, os cuidadores lançam mão de religiosidade e pensamento fantasioso. O uso de suporte social foi verificado em cuidadores com melhor nível de escolaridade. O estudo tem como finalidade a estruturação de um modelo de atendimento para os cuidadores e para as próprias crianças/adolescentes, diante das demandas dos familiares aos profissionais de saúde. Assim, ele aponta para a deficiência na atenção a esse público específico, além da eficácia discutível das estratégias de enfrentamento desenvolvidas pelos cuidadores. Alguns mitos são desmistificados, além disso, há a necessidade de maior acesso à rede de suporte social e à informação aos menos validos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Projeto: Significado da AIDS para adolescentes de uma escola pública de Salvador

WUO.M. (2003). AIDS na Escola: os Contextos e Representações sociais de Estudantes de Ensino Médio. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. PUCCAMP, Disponível em: http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_arquivos/6/TDE-2006-08-21T055503Z-1187/Publico/MOACIR%20WUO%20tese.pdf

Na tese de doutorado de Moacir Wuo (2003), encontramos uma pesquisa que teve como principal objetivo descrever e caracterizar as Representações Sociais de adolescentes sobre a AIDS e sobre atividades e/ou programas de prevenção à AIDS desenvolvidas nas escolas.
O referido estudo foi realizado em escolas de 10 Municípios do Estado de São Paulo, das quais foram sujeitos 440 alunos de 1ª e 3ª séries do Ensino Médio. O instrumento utilizado para coleta de informações foi um questionário com questões abertas e fechadas com dimensões do contexto familiar e social, situação de risco e Representações Sociais sobre AIDS e programas de prevenção à AIDS. As respostas foram analisadas pela técnica de Análise de Conteúdo de Bardin.
Os resultados dessa pesquisa apontaram que os adolescentes se preocupam pouco com a AIDS. Nas Representações Sociais da AIDS, “destacaram-se aspectos biológicos-medicalizados” com baixas referências à prevenção e conhecimentos distorcidos sobre transmissão e prevenção. A 3ª série manifestou maiores insatisfações e falta de interatividade nos programas de intervenção. De maneira geral os adolescentes reproduzem as Representações Sociais de professores sobre a AIDS via atividades de prevenção nas escolas.
A forma como o tema foi explorado pelo autor apresenta-se bastante atual e aplicável a outros contextos, as relações entre as representações sociais da AIDS e os contextos familiar e social mostraram-se pertinentes ao estudo, no entanto a busca das informações para as relações entre as inúmeras situações do cotidiano dos adolescentes demandaram a aplicação de um questionário muito extenso, que totalizou 66 questões, 59 fechadas e 3 abertas, o que poderia ter gerado fadiga nos sujeitos estudados e, de certa forma, enviesando a pesquisa, possivelmente resultando em um estudo que não investiga tudo o aquilo o que propõe.



THIENGO, Maria A; OLIVEIRA, Denize C.; GOMES, Antonio M. T.. AIDS e representações sociais: uma análise comparativa entre subgrupos de trabalhadores. Psicologia:Teoria e Prática - 2004, ed. especial: 91-104. Disponível em: http://pepsic.bs-psi.org.br/pdf/ptp/v6nspe/v6nspea07.pdf

Nessa pesquisa, o título (Representações Sociais do HIV/AIDS entre adolescentes: implicações para os cuidados der enfermagem) deixa bastante claro o objetivo do estudo de analisar as representações sociais do HIV/AIDS para adolescentes, com a finalidade de se desenvolver técnicas de promoção da saúde no campo da enfermagem.
Na metodologia utilizada nessa pesquisa recorreu-se a um abordagem quali-quantitativa, fundamentada na Teoria das Representações Sociais, na sua vertente moscoviciana. Como técnica de coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-diretiva, com a elaboração de um roteiro temático composto de 16 temas para a orientação das entrevistas. Esse roteiro foi construído a partir de três dimensões: “conhecimentos e atitudes acerca do HIV/AIDS”, “práticas e relações sociais como elementos comportamentais” e “formas de enfrentamento como elemento afetivo implicado nas representações sociais”.
Os participantes do estudo foram 15 adolescentes, com idades entre 12 e 20 anos, portadores e não portadores do HIV/AIDS. Os resultados obtidos apontaram para 5 classes de respostas: A AIDS como sintoma, na qual predominam respostas que indicam que a AIDS é uma doença que mata e não tem cura; A AIDS como distinção entre o normal e o patológico, onde observa-se uma distinção entre uma vida sem o HIV (normal) e uma vida com o HIV (patológica); A AIDS e os relacionamentos interpessoais, nessa classe os adolescentes apontam para a dimensão afetiva da representação social e refletem os preconceitos e a rejeição em relação aos portadores do HIV; Vida social na adolescência, o conteúdo dessa classe revela a fala dos jovens sobre seu cotidiano, não especificando associações com a AIDS; Conhecimentos e práticas acerca do HIV/AIDS, nessa classe observa-se que os adolescentes conhecem as informações básicas sobre as formas de contágio e de prevenção do HIV.
Por ser uma pesquisa basicamente qualitativa, não houveram condições para que se pudesse separar uma amostra mais significativa para a realização da pesquisa, no entanto os dados obtidos são relevantes, a classificação das respostas feita pelos autores permitiu ao leitor ter uma noção sobre as Representações sociais do jovem e seus comportamentos mediante a essas suas representações e das pessoas de seu círculo social.



Equipe: Andayê Sant'Anna, Alexandre Lino, Jamile Roriz, Leonardo
Equipe: Fernanda Leão, Mayra Freire, Mariana Maracajá e Priscila Galvão

Tema do projeto: A elaboração do luto antecipatório pelos familiares de crianças com câncer

Artigo: Maia,F.A.S. (2005).Cancer e morte.O impacto sobre o paciente e a familia.Trabalho de conclusão do curso de especialização em psiconcologia, Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil.

Resumo:

O diagnóstico do câncer causa grande impacto para a pessoa que o recebe e para a sua família, e introduz desafios constantes para a equipe de profissionais que irá atendê-lo. A equipe de saúde acostumada a essa realidade, em geral, não dimensiona adequadamente a avalanche de sentimentos e medos que perpassam pelo paciente e sua família, contribuindo assim, com o aumento de desespero e sentimento de fragilidade humana desse momento.
Habitualmente, existe uma certa negligência social diante de famílias que convivem com a incerteza em face da tragédia - o diagnóstico de que um membro seu tem câncer. O diagnóstico do câncer ou a simples possibilidade de sua confirmação, que passa a ser sentida como a morte ameaçada, rompe o equilíbrio individual e familiar. A família de um paciente de câncer tem sido vista como um agente importante nos cuidados necessários a esse paciente, devendo ser assistida cuidadosamente pela equipe de saúde. Assim, tendo a compreensão sistêmica do câncer e da morte e dos seus impactos, percebemos a importância de orientar e auxiliar pacientes e famílias, na vigência dos mesmos, ou mesmo após, para que consigam realizar as mudanças necessárias, sentindo-se apoiados, acolhidos e cuidados, no seu mais amplo sentido.

O surgimento do câncer em qualquer família é sempre uma catástrofe. Em geral, a morte de uma pessoa idosa, por câncer, é mais bem tolerada do que se a doença aparece em outra pessoa do mesmo grupo familiar, porém mais jovem. O paciente jovem tem qualidades especiais que os pacientes adultos não tem. Sua crença é de que o câncer não é sinônimo de morte. Para a maioria dos pacientes jovens o câncer é uma doença, e uma pessoa doente, desde que se trate, fica boa logo. Isso ocorre porque a grande maioria desses pacientes quase não teve contato direto com doenças graves, oque os libera de crenças pessimistas e possibilita que vejam a doença como enfermidade temporária, ou como um obstáculo a ser vencido. Esse otimismo pode, entretanto, ser “contaminado” pelos adultos que lhe passam seu próprio medo do câncer, devendo portanto os familiares em geral se trabalharem internamente para que possam construir um relacionamento aberto e saudável com o parente enfermo.

Todos desejam uma morte serena. O câncer, ao contrário de outras doenças, proporciona ao paciente muito tempo de preparação para a morte.Esta preparação pode ocorrer de diversas formas e vivenciada, diferentemente, por cada um podendo ser confortadora ou provocar desespero e inquietude. As pessoas utilizam estratégias diversas para se preparas, a saber, preparar testamentos, organizar o funeral e o enterro, autorizar por documentos o médico a desligar os aparelhos quando não há mais possibilidades de reversão do quadro, entre outras.A importância está na capacidade do paciente de morrer com dignidade, dependendo do grau de participação, autonomia e capacidade de escolher a própria morte.A família pode ajudar neste processo, evitando aquilo que não esteja de acordo com seus desejos e/ ou que lhe cause desconforto.A possibilidade da mortalidade gera para o paciente e a família uma ressignificação da vida, em todo o processo, os profissionais de saúde possuem responsabilidade na facilitação deste.

O processo cultural e social que nega a morte, afeta não apenas o tratamento, mas o paciente e a família. Os vários especialista para lidar com a morte, hospitais próprios para tratar o câncer, agentes funerários que cuidam do enterro, e todos que estão intermediando esta relação com a morte, mantém a família distanciada do membro que está morrendo.Isto está relacionado a própria incapacidade da família de lidar com a realidade da morte e visa manter a tensão emocional baixa e o equilíbrio estabilizado.A conseqüência deste contexto é que incapacita os familiares para lidar de maneira adequada com o estresse da perda e dificulta o processo de luto.

Assim como a morte o câncer também é assunto-tabu, em vista do estigma social e individual que a doença possui. Muitas pessoas morrem sozinhas, presas por sentimentos e pensamento que não conseguem comunicar a família. O câncer suscita vários tipos de medo da morte: da morte com dor, da morte com alívio, da morte em fantasia, da morte dos sonhos da vida, da morte que provoca rupturas, da morte como erro e fracasso do médico, da morte como fracasso dos recursos tecnológicos, da morte ameaçada e avisada. A incidência de um dos tipos de medo da morte, depende da característica individual de cada membro do sistema, da sua história, das suas crenças a respeito da morte e da dinâmica existente na família no momento da demanda desencadeada pela doença.

Existe um consenso entre os autores de que o luto normal deve durar, em média, dois anos.No entanto, pode durar anos pois as datas especiais, como aniversário do falecido ou eventos que lembrem a pessoa morta, suscitam a reviver a sensação da perda.Normalmente, em um momento a família aceita a perda, embora alguns autores considerarem que o luto nunca se encerra, apenas a dor se torna menos crua e intensa com o tempo.

Quando as famílias não realizam o luto adequadamente, elas possuem dificuldade em seguir com a rotina. Os membros da família podem culpar a si mesmo ou uns aos outros, utilizar alguém como substituto da pessoa perdida ou se abster de experimentar novamente proximidade com outras pessoas. Não é a morte em si que é problemática, mas a mistificação desta. Uma perda pode ser suportada, desde que os membros familiares a aceitem e reestruturem seu relacionamento.

Quando o luto é bloqueado pode ocorrer diversos processos:

a) Os relacionamentos se tornam rígidos, a família se fecha, demonstrando total incapacidade de se apegar a outros, é um meio de lidar com seus temores de perdas futuras, nega-se a possibilidade de fazer mudanças pós-morte.
b) O tempo pára para as famílias, seja em sonhos do passado, nas emoções do presente ou no medo do futuro. Geralmente os que abreviam seu luto, se precipitando em outro relacionamento, descobrem que, quando os sonhos cedem lugar às realidades da nova relação, a dor volta para assombrá-los. Os problemas que as famílias têm em outras transições evolutivas, como o casamento, a transição para a paternidade ou a saída dos filhos de casa, muitas vezes refletem essa parada no tempo.
c) Os sentimentos são bloqueados pelas varias maneiras de negação, ou fuga em atividades frenéticas, por exemplo, drogas, álcool, fantasias e mitos. Os mitos, segredos e expectativas que se desenvolvem em torno de uma perda crítica podem ser incorporados nas regras da família são passados de pai para filho. Certas famílias não fazer menção ao morto, como se pudessem assim banir a dor.
Muitos padrões de comportamentos apresentados nas famílias - casos amorosos, conflitos não resolvidos, alienação, isolamento, medo de estranhos, divórcios freqüentes, depressão, sobrecarga de trabalho- pode ser reflexo da incapacidade de se apegar a outra pessoa por medo de sofrer perdas.

A criação de mitos para evitar a realidade da perda, unem a família de forma patológica e criam conflitos psicológicos entre os membros, visto que, as respostas são ligadas a delírios e não à pessoa real.As crianças geralmente são afetadas, pois tornam-se substitutos das pessoas perdidas, e apesar de desconhecerem esta conexão isto gera problemas emocionais, elas são fantasmas insepultos do passado. É muito importante que as famílias sejam ajudadas através dos rituais que ajudam na elaboração do luto e do reconhecimento desta realidade da morte. Se as famílias sub-ritualizam sua perda, pode em momento posterior, realizar sua ritualização terapêutica, para que consigam elaborar seu luto e seguir em frente ,fortalecida e livre de mistificações que impediriam a adaptação das gerações posteriores. Os membros da família podem despertar para uma disposição que se reconciliem com uma experiência de perda e se conscientizem que muitos problemas manifestos, aparentemente não fazem parte do rdos problemas associados a morte, são ligados a um luto que não foi resolvido. Por exemplo, dificuldades de aprendizagem nas crianças, falta de atenção na escola e distanciamento social, suicídios ou tentativas, dificuldades em permitir ou fazer afastamentos da família nas transições para outras fases do ciclo de vida(casamento, saída dos filhos de casa, etc.).
A super-ritualização também pode inibir a evolução familiar, aprisionando os familiares e impedindo que se assumam novos compromissos.Como exemplo, a transformação do quarto de um filho em memorial, a dificuldade de se desfazer de objetos e coisas do morto, visitas repetidas compulsivamente ao cemitério, etc.
As questões de gênero estão envolvidas no processo de luto, pois culturalmente, as mulheres podem expressar abertamente sua dor e sofrimento, enquanto os homens evitam e negam seu sofrimento por medo de perder o controle e se refugiam no trabalho, por exemplo.As mulheres sintetizam a dor e as lagrimas da família – luto desviado – muito comum na nossa sociedade, e assim se isolam, pois fazer o luto sozinho aumenta ainda mais a dor.

Estudos - Wortman e Silver (1989) - concluem que sabemos muito menos a respeito do que constitui um luto saudável, normal e do quanto este é “necessário” ou “apropriado” para resolver uma perda. O sofrimento é uma questão muito particular e não deve ser julgado apriori como os
outros fazem seus lutos, se eles devem ser mais ou menos expressivos. Cada família e cada pessoa encontra seu próprio meio de lidar com a perda. Além disso, os estudos apontam que há muitos mitos quanto ao luto tido como saudável. Famílias diferentes podem reagir de formas diferentes, dependendo do filtro histórico, cultural e étnico, pois cada cultura tem suas formas de marcar o luto, e a sua duração também difere grandemente de cultura para cultura. Também diferem a respeito de expressões públicas em oposição às privadas.Questionam ainda, a noção de que o luto “normal” possui duração de dois anos.

A questão da morte e seus estágios, possui uma complexidade ainda maior quando se trata da família, pois o enfrentamento desta dependerá da estrutura de cada um dos indivíduos e da relação entre que existe entre eles (Kovács,2002). O primeiro estágio descrito por Kubler-Ross, Negação e Isolamento, ocorre logo após ser dado o diagnóstico da doença, neste momento, é comum o estado de choque dos familiares.Deve-se considerar a qual sistema de relacionamento as pessoas pertencem, “aberto” ou “fechado”.No sistema fechado os familiares recebem as informações do médico que costumam ser distorcidas, aumentadas e reinterpretadas nas conversas em casa. Isto dependerá do sistema de crenças da família no seu curso multi-geracional e é influenciado de acordo como ela aprendeu a responder e vivenciar as notícias das doenças físicas, das mais simples às mais graves, como ela vivenciou as mortes reais de outros membros da família. A negação é um mecanismo que dá suporte a um falso equilíbrio até que se passe para o próximo estágio. O segundo, Raiva ou Revolta, ocorre quando a negação não é mais possível face as evidências concretas.Os sentimentos são expressos por perguntas como “Porque eu?, Porque para nós? Este momento pode gerar reações de hostilidade, requer habilidades especiais da equipe para acolher e compreender o estágio, além disso as próprias reações da equipe podem se tornar hostis face aos seus próprios sentimentos de impotência, que são vividos também pelos familiares. O terceiro estágio, é a Barganha e a Negociação, que são tentativas de acordos que adiem um desfecho, muitas vezes, inadiável com a equipe ou entre si.O objetivo é ganhar mais tempo de vida. As reações são distintas, dependendo se o paciente estiver, recebendo cuidados curativos ou se ele precisa enfrentar a transição para os cuidados paliativos.Existe possibilidade de sentimentos de culpa e de culpar a equipe médica. Embora 50% dos casos de câncer sejam curáveis se detectados precocemente e tratados adequadamente, o câncer é percebido como uma doença que leva invariavelmente à morte e acompanha dor e sofrimento intolerável. Os tratamentos são vivenciados como piores do que a própria doença e como uma sentença de morte. O quarto estágio é o da depressão, surge quando não há mais possibilidade de cura. O paciente entra em contato efetivo com suas perdas: família, corpo, finanças, lazer. Este momento é uma elaboração do luto das perdas já vividas.Constitui-se em uma fase muito difícil para o paciente e a família e o paciente tende ao isolamento, vivenciando o enlutamento de sua morte solitariamente. Sua vivência neste momento vai depender de sua história de vida e desenvolvimento. Se já havia problemas de comunicação entre a família e o paciente, estes podem se agravar nesta fase.Às vezes, são ocultados fatos como o diagnóstico da doença, o seu agravamento ou a possibilidade da morte. O paciente muitas vezes percebe, em seus familiares, mudanças de comportamento que tenta decifrar. O quinto estágio é a Aceitação, compreende um afastamento da depressão e do medo e um envolvimento com o processo de cura, ou a conscientização da possibilidade da morte.As pessoas pensam em como podem usar o tempo que lhes resta e passam a vivenciar o presente mais intensamente. Os estágios que o paciente passa podem ser os mesmos pelos quais a família passa, mas nem sempre são coincidentes, além de que suas necessidades são muito diferentes das do paciente. Podem surgir, sentimentos ambivalentes como culpa, impotência, raiva, tristeza e desejos de morte do paciente. A família deve realizar o desapego, processar a perda e tentar manter a integração familiar, redistribuindo as funções do membro doente com o paciente ainda vivo, fazendo a preparação para o luto antecipatório. Quando o processo é muito longo as famílias costumam ficar sem energia e precisam ser, ajudadas a manter seu equilíbrio.

A autora aponta que as famílias, diante de uma elaboração da perda antecipada, podem reagir de forma conflituosa e disfuncional, reproduzindo esse padrão nos demais diagnósticos de câncer na família. As dúvidas quanto à possibilidade de cura e quando ocorrerá à perda antecipada trazem grande impacto à família devido à fronteira ambígua entre a remissão e a cura reforçarem o medo da perda antecipada. Assim, uma remissão da doença destrói as esperanças de cura e retornam, ao cotidiano familiar, todos os receios da perda antecipada. É importante que a família possua a crença de controle da situação, mesmo que esta seja ilusória, para se manter ativa frente ao período de tratamento; e que seja realizado intervenções psico-educativas junto a essa família no intuito de diminuir os temores oriundos dos sintomas, permitindo normalizar as emoções relacionadas á perda ameaçada.

O contato da família com o membro adoentado traz a necessidade de compaixão e compreensão por parte da mesma, em virtude das pessoas se defrontarem com os seus próprios temores diante da doença e da morte e pelo paciente esperar compreensão diante das suas reações inesperadas ao tratamento, dor e alívio. Para isso é preciso ter uma comunicação aberta e honesta, respeitando os sentimentos familiares que venham a surgir, a equipe médica deve estimular a aceitação e a expressão desses sentimentos, e os do paciente. É importante que a família permita que o doente se responsabilize pela sua recuperação e desenvolva um desejo de viver como forma de enfrentamento da doença. A autora mostra que a decisão, por parte do paciente, de lutar para recuperar a saúde ou aceitar a morte leva tempo e que cabe a família esperar e respeitar a autonomia do paciente. Apesar da mesma expor que a família é uma grande aliada do tratamento e da equipe por ter papel fundamental no desenvolvimento da convicção do paciente quanto a eficácia do tratamento; e por ser essencial no reforçamento das expectativas de esperança do doente. A autora revela ainda que não haja nenhuma regra que imponha que os cuidados se restrinjam aos familiares mais próximos, sendo à entrada de novas pessoas no sistema familiar altamente saudável e benéfica para todos, por, dessa forma, conseguir satisfazer as necessidades do paciente e da família. Quanto mais a relação seja clara com uma comunicação aberta e honesta no curso da doença, maior será crescimento da família durante este período e menor será o desgaste de energia dos familiares, por não precisarem simular que tudo está bem, quando na realidade não está. Preservando, assim, a saúde física e mental dos mesmos.

A autora conclui que o aparecimento do câncer torna-se um divisor de existência tanto para o paciente como para a família, representando para eles um grande desafio. O modo como se dá o enfrentamento da doença, em todas as suas fases, destaca a importância da intervenção profissional num contexto sistêmico. Todos devem se preparar para as eventuais ressonâncias da doença e da morte.